quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Portugal... obeso e com tiques de rico

Pensávamos que o País estava em dificuldades económicas e que essas dificuldades tinham reflexo nas decisões a nível da despesa.
Também pensávamos que os nossos dirigentes da Saúde, sendo-o de um País remediado, mantinham uma prudente e limpa relação entre o gasto na prevenção com o gasto na cura.
Enganei-me redondamente e, facto raro, o engano tem número: nove milhões e seiscentos mil Euros, para o ano em curso (9.600.000,00 €).
Falo, claro, no moderníssimo Programa de Tratamento Cirúrgico da Obesidade (PTCO - por um bocadinho era XPTO), congeminado na mente parcelar de médicos hospitalares e que acreditam mais na força do bisturi do que em Programas de Educação para a Saúde.
Certo que o XPTO, perdão o PTCO é bem vindo. Permite o acesso, basicamente no SNS, de obesos a cirurgia, em tempo digno, para colocação de banda gástrica ou cirurgia de bypass. Está tudo bem explicado na Portaria nº 1454/2009, de 29 de Dezembro, com valores envolvidos de 5.628,38 € a 7.158,36 €, por obeso.
Mas sendo esta uma casa de desabafos, aqui ficam alguns:
- que envolvimento foi pensado para os Centros de Saúde e os Médicos de Família?
- a obesidade tem incidência familiar e comunitária? E, se sim, como está esta envolvida?
- que verbas estão pensadas para programas sérios de Educação para a Saúde?
- se vamos gastar esta massa toda em cirurgia conhecida por ter 30% de recidivas, por vezes muito graves, e mais de 50% de ineficácia face ao pretendido, o que pensamos vir a gastar nas Escolas e nas Comunidades para introduzir hábitos de vida saudável?
Somos ricos. Gastamos o que não temos em cura, temporária e improvável, e não somos capazes de ousar gastar em prevenção.
Este Programa foi idealizado por quem tem tiques de rico e por quem pensa o País como um imenso Hospital. Infelizmente idealizou com o nosso dinheiro.


3 comentários:

  1. bom post!
    este comportamento nosso/deles, de gastar o que não se tem, terá vindo de onde? de sermos muito sonhadores? de demasiado esperançosos? de burrice? seremos bipolares??

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  2. de apetência por bons negócios à custa de um Estado laxista?

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  3. Enquanto não encararmos de frente o problema da Obesidade (e encarar de frente é prevenir e não tratar) não conseguiremos controlar esta epidemia. É a nível da educação para a saúde que tem de ser feito o maior investimento, bem como na criação de infra-estruturas e mudança de mentalidades que promovam uma verdadeira modificação dos estilos de vida da população. Fácil? Não, muito difícil e sem resultados imediatos. A outra opção é deixarmos os portugueses aumentarem de peso até à Obesidade Mórbida e em seguida propor-lhes um tratamento hospitalar (cuja eficiência é, como foi dita, pequena). Opções....

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