segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Inevitável?

Provavelmente é inevitável o enorme aperto que se perspectiva a partir de 2011.
Sou, como muitos, levado a adjectivar de cobardia a redução de salários.
É preciso ser economista para, perante a pressão dos mercados e o aperto do desmando, aumentar brutalmente os impostos e reduzir salários? Esta medida não está acessível ao mais simples dos mortais, por mais deficiente que o seu QI se revele?
Temos assim que o trabalho, o seu valor intrínseco, se desvaloriza. E isso acontece porque um pouco por toda a Administração Pública não se fez o trabalho de casa a tempo e horas.
Mesmo na hora de conhecer os textos oficiais da Proposta de Lei do OE 2011, parece-nos que o tiro é mais certeiro a quem paga e consome do que a quem politicamente dirige o País e o deve pensar a bem do interesse público.
Com o salário reduzido e os impostos acrescidos temos tendência para olhar para o lado e considerar indesculpável o adiar constante das reformas estruturais. Porquê freguesias com pouco mais do que 100 eleitores? Porquê concelhos com pouco mais do que 1000 almas? Porquê tanta Empresa Municipal ou Empresa Pública? Porquê tanto Instituto, tanto Secretário de Estado, tanto Ministro, tanto Deputado, tanto assessor? Porquê a obscenidade de consultadoria externa na AP?
O que mais incomoda em tudo isto é a percepção que esta impositiva e violenta reforma económica e financeira vai ser feita por quem se revelou, dolosamente, vítima das lógicas partidárias mais trauliteiras e mais oportunistas e por quem alimentou necessidades de emprego de famílias políticas, quantas vezes técnica e moralmente incapazes.
Alguém imagina que a Administração Pública se vai auto-controlar, auto-limitar ou auto-extinguir quando tem vivido, desde há longos anos, numa lógica parasitária?

1 comentário:

  1. Esse texto sucinto é dolorosamente incontestável e dramaticamente correcto.

    Placebo

    ResponderEliminar