quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A palavra

Os nomes, datas, horas e factos são mera coincidência e expressão ficcionada do autor.

8 de Julho de 2009. Belo dia de sol em final de tarde no CCB. No varandim, bolinhos, salgados, pequenos snacks, sumo de laranja e vinho do porto selam a confraternização sobre os 30 anos do SNS.
Ana Jorge ufana-se e desdobra-se em contactos. Tinha razão para isso. O dia foi de glória, as vozes e os números aclamaram o SNS como a grande conquista do Portugal de Abril, viu consagrado, com fortíssimo aplauso, o Dia Nacional do SNS e José Sócrates, com presença e palavra inequívoca, sublinharam o conceito com a génese socialista de António Arnaut.
Juntos como lapas, Carlos Arroz e Mário Jorge segredam preocupações pelo inexplicável atraso da promulgação dos diplomas das Carreiras, retidos em Belém, ao que consta, por pesadíssimas pressões liberais e da Ordem dos Médicos. José Sócrates acena sorridente e os três cavaqueiam com aparente mas contida intimidade.
José Carlos Martins, líder do confronto e sem nada nas mãos para apresentar aos enfermeiros, enfrentando inovações e derivas no terreno, acerca-se e pede apresentação ao Primeiro.
Carlos Arroz e Mário Jorge indagam das razões e avisam dos limites. Também eles queriam mais mas um prolongadíssimo período eleitoral tinha obrigado ao pragmatismo de deixar matérias sensíveis para o pós 27 de Setembro, incluindo as massas.
Que sim, queremos o mesmo, o dinheiro fica para depois mas devíamos garantir já carreiras para todos, mesmo para os EPE. Eh pá vê lá se não róis que vamos ser nós a dar a cara e vocês costumam morder na mão de quem vos dá de comer. Não, não, aprendemos, juramos, até pomos velinhas.
Senhor Primeiro-Ministro, este jovem é quem manda nos enfermeiros e quer o mesmo que os médicos - o Estatuto de Carreira em diplomas gémeos antes das eleições.
Mas é a sério ou apanham-se com a coisa e mantém-se em campanha à porta do Ministério? Não parece que desta vez é que é! Vá lá ouça-os lá e sossegue a Saúde. Se é por vosso intermédio. Olá como está. Era bom que o Governo nos desse uma oportunidade para seguir o mesmo caminho dos médicos. Oh Ana, aqui os senhores enfermeiros parece que estão dispostos a dialogar com celeridade. É possível?
Foi.
Antes do fim do mês de Julho já o Conselho de Ministros tinha feito a aprovação dos dois diplomas que ainda viajaram a bordo do tal carro carregadinho de papel com destino às férias Algarvias de SE o Presidente.
Antes das eleições legislativas os enfermeiros lá estavam, comandados por José Carlos Martins, na João Crisóstomo, em frente ao Ministério exigindo negociar o que sabiam não ser possível e para o qual tinham dado a sua palavra.
Ironicamente, no mesmo dia Carlos Arroz e Mário Jorge subiam ao 7º Andar onde, entre reuniões várias, conseguiram ultimar os ACT, sem matéria salarial como assumido em Junho.
Os olhares trocados entre aqueles três dirigentes sindicais passou despercebido a todos. Mas eles sabem que se cavou ali um enorme fosso na confiança pessoal com reflexos que só a História desvendará.

17 comentários:

  1. Carlos Arroz? Não, de certeza que é a Carolina Salgado a desabafar mais uma vez!
    Quando queremos comentar algo mas ignoramos o seu conteúdo o melhor é mantermo-nos calados.

    De um enfermeiro não sindicalista, apenas burlado.

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  2. O snr doutor está equivocado, O Snr Enfermeiro José Carlos não funciona como um delegado de propaganda médica. E manifestamo-nos somente, não vamos em viagens pagas por laboratórios depois de ter impingido a "dita" terapêutica aos doentes e deixado os doentes por operar, sem visita médica,.....
    As melhoras Snr dr (ou doutor?).

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  3. Há declarações que põem em causa as pessoas. Espero que tenha noção do que aqui escreve e insinua...

    Já agora espero que como colega profissional de Saúde apele ao respeito à greve dos Enfermeiros e não à sua substituição pelos seus colegas .

    Bom Fim de Semana e Enviamos o convite para visitar o nosso site com perto de 900 mil visitantes

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  4. Pum, Pim, Pam, Pumba.
    Nunca pensei em ter um blog que fosse um sucesso entre enfermeiros e que lhes suscitasse tanta estima.
    Mas quem costuma furar as greves médicas são os enfermeiros. Foi assim nos Centros de Saúde em que até os Administrativos alinharam, no tempo de Luís Filipe Pereira. Mas era, como agora, o tempo do Vodka com laranja.
    E fiquem descansados que não conheço nenhum médico que queira ser enfermeiro. Nem saberíamos sê-lo. Já o contrário. Ui, Ui.
    Quanto à declaração...não o é. É tudo ficção.

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  5. voce não conhece nenhum medico que queira ser enfermeiro,mas olhe que já vi dezenas de pseudo-medicos que querem o enfermeiro junto a ele para um simples ecg,ou gasimetria,para já não dizer de umas tantas reanimaçoes.
    Só lhe peço que tenha mais respeito pelos enfermeiros,porque parece que (nós)lhe fazemos muita comichão.
    Trate-se.Isto não é ficção é a realidade!!!!
    Enfermeiro humilhado.

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  6. Mas eu tenho enorme respeito pelos enfermeiros! Até afirmei e afirmarei sempre que os médicos jamais saberiam sê-lo.
    A cada um o seu múnus.
    Os enfermeiros é que parece que se respeitam pouco. De contrário não tinham tanto desemprego e tanto pseudo-curso para o alimentar.
    E olhe que eu escrevo, falo, contesto sempre dando a cara.
    Gostaria de o respeitar. Mas infelizmente, como tantos, esconde-se atrás do anonimato.

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  7. http://doutorenfermeiro.blogspot.com/2010/01/o-arrozal-de-peniche.html

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  8. "Mas quem costuma furar as greves médicas são os enfermeiros."


    Na ultima greve dos enfermeiros, o CM noticiou em letras gordas: Médicos fizeram enfermagem!
    Fica a dúvida sobre quem fura o quê!

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  9. As melhoras "Sôtor".

    Cumprimentos de um enfermeiro.

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  10. A maioria dos médicos portugueses só têm estrume na cabeça, só pensam em dinheiro, os doentes que se lixem. O que interessa é o status social e o carcalhol. Mas a mama há-de acabar.

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  11. Eu nao me escondo no anonimato,so nao tenho acesso a comunicaçao social como a sua pessoa tem,mas deixo aqui a minha identificaçao para que o sr dr fique mais contente.
    Enfº antonio martins,sou enfº em mirandela e inscrito na ordem dos enfermeiros com o numero 4-E-229.
    Como pode ver nao me escondo atras de ninguem,nem tenho medo de ninguem.

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  12. Srs Enfermeiros, contenham-se.

    dr arroz, não pretendo envolver-me no seu círculo de amizade e animosidade, mas creio que o que terá motivado JCM a defraudar o acordo firmado, foi o perene desrespeito pela classe de enfermagem. a coisa já dura há demasiado tempo, este governo e esta ministra têm persistentemente atrasado as negociações com os enfermeiros, enredando-os numa trama de contratempos, propostas inqualificáveis, e promessas vazias.
    de certo que será partidário da luta dos enfermeiros, afinal, todos querem ser bem pagos, ter condições dignas de trabalho, e enfim, ser reconhecido no seu valor social e profissional. sou enfermeiro e temo muito pela minha profissão. passam-se tempos muito difíceis actualmente, e a luta pelo reconhecimento da licenciatura em termos salariais, já dura há 10 anos.

    com tanto ata e desata, começa a fartar, e a puxar para o jogo sujo... entende? desespero a quanto obrigas

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  13. Bem o percebo, mas nem sempre os fins podem justificar os meios. Nos limites existem conceitos de decência, de honra e de carácter que, se ultrapassados, nos colocam ao nível de Neanderthal.
    Sou partidário de todas as lutas e de todos os processos que levem a um aumento da dignidade profissional e do reconhecimento social.
    Daí que seja necessário muito partir pedra dentro da classe de enfermagem e perceber porque caminham para um desequilíbrio nos recursos humanos que impõe fatal desemprego. Por outro lado talvez investir mais esforço em propostas negociais e menos em espectáculos mediáticos e politico-partidários.
    Os enfermeiros estão feitos enquanto forem jogo de facções sindicais partidárias.
    E esta é apenas a minha opinião. Vale exactamente isso: uma opinião.

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  14. Comentário parte I

    Caríssimo Dr. Carlos Arroz

    Confesso que foi com alguma estupefacção que deparei com o seu "blog", julgando eu que o SIM e a intensa carga laboral médica não lhe deixariam tempo para estas "escapadelas" na blogosfera. Ainda bem que o consegue pois a prosa inteligente é sempre estimulante e digna de ser discutida em forma e matéria. E em relação à matéria focada, devo em primeiro lugar identificar-me como enfermeiro ou melhor ex-enfermeiro a nível funcional, uma vez que exerço a profissão de Gestor.
    E como observador atento e integrante do SNS há já alguns anos, devo em primeiro lugar alertá-lo para aquela máxima do "scribitur ad narrandum, non ad probandum"! Ainda bem que a fábula que narra não passa disso mesmo. Também, ainda que não o fosse, para todos os efeitos estamos num "blog" e como tal estaria no seu pleno direito consagrado pela revolução de Abril, de dizer aquilo que pensa e lhe vai na alma. Deus nos acuda quando o lápis azul da censura também aqui chegar. Já seria diferente se a dita fábula chegasse ao distinto Jornal Virtual do SIM, onde então aí as fábulas assumem interpretações mais sinuosas.
    Refere anteriormente: "...nunca pensei em ter um blog que fosse um sucesso entre enfermeiros e que lhes suscitasse tanta estima...". Já percebeu certamente que falar tanto sobre Enfermagem e enfermeiros num suposto "blog" de sindicalismo médico e respectivos desabafos, atrai certas pedradas que, elogio lhe manifesto, o Sr.Dr. tolera democraticamente. Outros limitar-se-iam a apagar pura e simplesmente os comentários. E digo-lhe que se apagasse alguns estaria a fazer um favor aos enfermeiros.
    De volta ao tema, uma das razões que me parece atrair demasiados comentários de enfermeiros para as bandas do SIM, é que efectivamente neste Sindicato fala-se demasiado de Enfermagem. Claro que ainda não chegam aos calcanhares do recordista Azevedo, onde no seu (e digo literalmente SEU) Sindicato dos Enfermeiros, se fala mais sobre médicos do que qualquer outro tema. Mas enquanto no caso deste último bizarro e folclórico personagem da Enfermagem se escrevem desabafos filosóficos de uma mente perturbada, no caso do SIM lançam-se argumentos anti-enfermeiros baseados em desabafos jurídicos de outra análoga mente idem perturbada. Bastará ler as "crónicas legais" sobre os Conselhos Clínicos dos ACES ou sobre a coordenação das UCC's para suspeitar se os supostos "pareceres jurídicos" não foram produzidos por um miúdo de 18 anos que acabou de ler a "Introdução ao Estudo do Direito" do Prof. Santos Justo.

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  15. Comentário parte II

    Mas ainda assim, é inevitável que médicos falem de enfermeiros e vice-versa. E repare que estive em muitas reuniões de enfermeiros onde critiquei que se perdesse tanto tempo a falar de médicos. Não sei se por essas bandas acontece o mesmo. Mas presumo que não uma vez que na opinião do Sr. Dr. uma boa fatia de enfermeiros gostariam de ser médicos e o contrário não acontece nem numa amostra singular. Acredito piamente. Sabe que a quem me dizia que tinha tirado Enfermagem por ser um mini-curso de Medicina, eu costumava responder que a Medicina é que poderia ser um curso de Enfermagem Avançada. Será que em cada médico não existe já um enfermeiro ? Tomara não estarmos aqui a lançar deixas filosóficas para o abjecto Azevedo comentar amanhã no SE (sim, eu também não aprecio o personagem!)
    O comentário da apetência dos enfermeiros pela Medicina parece-me assim um tanto pusilânime Dr. Arroz. Numa lógica de Maquiavel, a cada um que aufere menor remuneração, independentemente da área, se fossem facultados os privilégios e salários de colegas seus como o Manuel Antunes ou o Eduardo Barroso, ia já para médico! Mas posteriormente se me convidassem para administrador hospitalar, deputado ou gestor da Galp, CGD, Refer e afins, que se "lixasse" esta história do estetoscópio e de salvar vidas a remexer em sangue e vísceras. Não estamos a falar de Medicina tal como a deveríamos entender, mas de um conjunto de poderes e privilégios que foram associados a esta profissão em Portugal, tal como a muitas outras. Pergunte ao Jorge Coelho ou ao Fernando Gomes se gostariam de ser recrutados para as fileiras médicas e veria a resposta.
    Como já vai longa a prosa, numa consideração final concordo em pleno consigo: os enfermeiros foram os predadores da Enfermagem ! Corjas como chefes, supervisores, docentes a tempo inteiro/parcial e outros frutos do modelo Taylorista fizeram dos restantes o seu "pasto" e levaram a classe ao mais baixo nível de poder reivindicativo, empregabilidade, prestígio e consequentemente remunerações. E quanto a isto não há discussão possível.
    Folgo em saber que os médicos ainda não adoptaram este modelo de cadeia alimentar intra-classe. Desejo-lhe a melhor das sortes a impedir que isso se replique na sua profissão. Nem que para isso sejam necessárias greves self-service e afirmações que os enfermeiros ganham mais que médicos (esta era uma pequena e humorada "farpa" da qual certamente o Dr. Arroz soltará um sorriso como pessoa inteligente que é).
    Espero ter oportunidade de partilhar mais destes desabafos consigo. Prometo que os próximos serão mais curtos! Cumprimentos.

    PS- Sabe que nesta história do sindicalismo em Enfermagem é escolher entre a parelha Zé Carlos-Guadalupe e o Azevedo. Para uns como eu, a escolha foi nunca se sindicalizaram. Para outros é como escolher entre um neo do esófago ou do recto. Espere-se um milagre!

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  16. Meus senhores, assim não vamos a lado nenhum. Cada profissão é o que é e ponto final. Nunca serão os outros a impedir-nos de obtermos o que queremos mas apenas, e repito, apenas nós mesmos. A história encontra-se repleta de exemplos de pessoas que ultrapassaram barreiras culturais,raciais e de género e venceram. Aliás as mulheres deste país continuam a fazê-lo todos os dias, por isso sugeria mais diálogo e menos acusações e lamentações, que não levam a nada.
    Uma enfermeira...

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  17. Estimado Navarra,
    Já dou por bem empregue ter caído na asneira de me estrear neste campo internético.
    Lê-lo, e publicá-lo pois claro, é um sinal que se pode (deve!) trocar ideias de forma educada, urbana e civilizada.
    Confesso-lhe, e a todos os cuscas, que no meu primeiro dia de trabalho na profissão que escolhi, no Serviço de Medicina do Hospital de S. José, o então Director nos entregou nas mãos do Enfermeiro Chefe para que pudéssemos aprender a fazer uma cama. Dizia que deveríamos saber fazer algum do trabalho de um enfermeiro para que lhe respeitássemos o valor e a sua vital importância num serviço. E dizia, e muito bem, que se não nos desenrascássemos a fazer uma cama a um doente jamais seríamos médicos.
    Tinha razão e, 30 amos volvidos, aqui lhe deixo uma vénia.
    ps - não faço a mínima ideia se o Enfermeiro Chefe era sindicalizado. Mas sei que sabia muito, adorava ser enfermeiro e a sua opinião era respeitada na visita clínica semanal do Director aos doentes internados.

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