quarta-feira, 10 de março de 2010

A bola debaixo do braço

Quando éramos putos, todos nos lembramos da terrível coincidência que se verificava na associação das melhores bolas com os piores intérpretes. Os artistas traziam para a rua bolas fartinhas de palmilhar, empenadas, desmaiadas ou rotas que aumentavam a admiração de todos perante os milagres que se viam extrair daqueles destroços.
Quando aparecia coisa nova, a estrear, normalmente trazia em apêndice o dono, trapalhão e desajeitado, que fazia depender o usufruto da dita da sua presença em campo.
Ninguém se opunha, claro, confortados na bela tarde de rija peleita adivinhada.
Só que, normalmente, nos esquecíamos dos humores instáveis do apêndice e, bastas vezes, a menor importância que lhe era dedicada na arte colectiva ou a simples necessidade de demonstrar quem mandava, fazia desaparecer, estrada fora, o paspalho com a redondinha debaixo do braço.
Fim de jogo para saberem quem manda.
Desconfio seriamente que Teixeira dos Santos era, quando puto, um paspalho a jogar à bola mas tinha paizinho que lhe alimentava a fleuma com bolas cintilantes.
A facilidade e a desfaçatez com que sai porta fora com os compromissos, por si anteriormente assumidos, debaixo do braço, só pode derivar de uma infância tremida no jeito do drible.
Assim, em passe de letra, toma lá e cá vai disto: o que era para depois é já amanhã e pronto.
Teixeira dos Santos, qual puto ranhoso digno de Manoel de Oliveira, manda-nos ficar em jogo mais uns anos e com uma bola de trapo velho.

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